Quando perdemos uma pessoa querida ficamos desolados, sem chão, sem eira nem beira. Mas e quando perdemosso nosso melhor amigo, aquele que escolhemos a dedo, que cuidamos como se filho fosse, que tratamos, mimamos, brigamos, ensinamos?
O amor que eu sinto não cabe num texto, não cabe em palavras, não cabe. Ele era a minha vida, a minha razão, a minha felicidade, como eu costumava dizer. Parece exagero, mas num mundo onde os seres humanos mentem cada vez mais, nossos bichinos quase humanos fazem as vezes de melhores amigos, pai, mãe, irmãos, ouvintes silenciosos. São companheiros até na hora da briga. São submissos. São fiés até que a morte os separe de nós. E assim não foi diferente conosco. Foi amor a primeira vista. Eu quis tê-lo pra mim, no exato momento que o vi. Como se fosse ontem, lembro dele tão pequenino, cabendo na palma da minha mão. Lembro de todas as falcatruas, de todas peripecias, de tudo. Ele participou de tantos momentos da minha vida. Sua presença tão marcante. Era impossível: não se apaixonar por ele; não amá-lo; não querer pegá-lo no colo; não brigar com ele pelos seus latidos estridentes ou seus pulinhos alegres. Sentiu minha falta quando viajei. Viveu comigo a experiência de sair da casa dos pais e continou compartilhando comigo todos os momentos: desde uma briga em família até uma promoção no trabalho. Às vezes eu queria chegar em casa, após um dia cansativo só para vê-lo me olhando e me pedindo carinho. Pronto. Ali, meu dia começava realmente. Ele viveu tudo comigo e eu tinha a impressão de que ele entendia cada palavra minha. Curioso, né? Se para cada momento de felicidade que ele me proporcionou caisse uma única lágrima de meus olhos, teríamos um oceano.
Meu amor pelo bichinho de 1,2kg não tem medida, não tem tamanho. A dor da minha perda é grande, mas é diferente. É uma dor diferente. Simplesmente diferente.
E talvez doa tanto pq eu vivi intensamente com ele. Talvez doa tanto pq, apesar dos avisos, eu vivia por ele e para ele. Talvez doa tanto, pq eu nunca sequer quis cogitar a possibilidade de viver sem ele. Talvez doa tanto pq ele sempre ficou ao meu lado. Talvez doa tanto pq eu quase acreditei que ele era uma pessoinha. Talvez doa tanto pq eu tinha encontrado nele alguém com o meu temperamente, tão impossivelmente parecido comigo.
O grande lance é que ele nunca me magoou. Nunca. Como poderia não é mesmo? Ele vivia pra mim, por mim, comigo. Ele respirava, comia e vivia totalmente dependente de mim, do meu carinho, do meu amor e dos meus cuidados.
Sempre me considerei uma excelente "mãe". Será que foi falta de cuidado? Ou será que foi mesmo uma fatalidade? Se eu estivesse ali, um min antes. Se eu não tivesse feito assim ou assado... Impossível não pensar nessas hipóteses.
Na verdade não importa. Não importa. O que importa é que a partir de hoje, chegarei em casa e não terei pulinhos (bem saltitantes) para me receber. Não terei a cabecinha minuscula no meu travesseiro a noite. Não terei aqueles olhinhos vivos me olhando e me pedindo alguma coisa. Não terei mais aquele amigo que assistia futebol e torcia junto comigo. Não terei mais aquele latido estridente que só eu amava. E amava tanto aquele latido, que me divertia vendo os outros brigarem com ele. Não terei mais muitas coisas. São tantas lembrañças que dói absurdamente só de pensar que não as terei mais no meu cotidiano. Não terei nunca mais o meu companheiro mais fiel.
Cachorro não é tudo igual. É como pessoa. Cada um é de um jeito, tem uma personalidade, uma característica. Do meu bebe, sentirei falta de tudo, absolutamente tudo, pq ele nasceu pra mim. Ele foi feito todinho pra mim, sem tirar nem por.
Pelo menos eu posso ter a felicidade de dizer que eu conheci o MEU cachorro. Tenho certeza que ele nasceu predestinado a mim.
Te amo, bebe. Obrigada pela cia, sempre.